Nos últimos anos, protagonismo de princesa Isabel vem sendo revisto, abrindo espaço para personalidades negras escravizadas que lutaram e resistiram no Brasil
Por Andréa Ascenção
O dia em que a "Lei Áurea" foi assinada pela princesa Isabel, 13 de maio de 1888, ficou conhecido como a abolição do trabalho escravo no Brasil, mas, a abolição foi inconclusa e não trouxe reparação para a população negra. Nos últimos anos, a história vem sendo ressignificada.
Diferentemente do que ficou registrado nos livros de história, o 13 de Maio não se trata de uma data para comemoração. O próprio protagonismo da princesa branca, então, regente do Brasil, também funciona como tentativa de apagamento de narrativas negras.
Ancestralidade
A obra “Rastros de resistência”, de Ale Santos, finalista do prêmio Jabuti em 2020, resgatou a história de grandes heróis negros. Santos trouxe à tona a resistência e o legado de figuras como Zacimba, uma princesa da nação Cambinda, em Angola. Em 1690, ela foi comprada pelo barão José Trancoso, no porto de São Mateus, no Espírito Santo e não demorou para perceberem que os demais escravizados a tratavam de maneira diferente, afinal, Zacimba pertencia à realeza.
Santos conta que o barão a trancafiou, humilhou, torturou e estuprou. Então, contando com a ajuda de escravizados que a conheciam, a princesa liderou uma revolta e usou “pó pra amansar sinhô” – feito com veneno de jararaca – para envenenar Trancoso. Assim, pôde fugir e formar um quilombo, onde hoje se encontra o município de Itaúnas (ES). Durante uma década, a guerreira Zacimba invadiu navios negreiros, para libertar seu povo.
Em entrevista para Poliana Casemiro, publicada no G1, Santos disse: "Essa indicação [ao Prêmio Jabuti] representa uma quebra do paradigma. Uma sociedade que não se assumia racista e que passou a tomar posição. As pessoas estão se tocado que não é normal viver em um país em que você entra em um estabelecimento e todos são brancos. E que a maioria dos pobres são pretos”. O escritor continuou: “A luta antirracista está avançando e a sociedade quer novas histórias. E a gente quer colocar nossa história de um jeito diferente no destaque”.