Pesquisa apresenta dados, nunca antes levantados, sobre restos comestíveis e não comestíveis, de resíduos deixados pelos feirantes nas ruas
Por Redação
A Universidade Estadual Paulista (Unesp), junto às universidades de Boras, na Suécia, e Federal de Minas Gerais (UFMG), realizaram um estudo precursor cujo objetivo foi quantificar e analisar o desperdício de alimentos em todas as 942 feiras livres que são montadas na cidade de São Paulo.
A pesquisa pioneira foi iniciada devido à falta de informações sobre o tema no país.
Conforme o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) “Índice de Desperdício Alimentar”, publicado em 2021, o Brasil e a América Latina, em geral, apresentam escassez de dados quanto ao desaproveitamento de comidas em serviços de alimentação (restaurantes) e de varejo (supermercados e feiras).
A partir dessa “lacuna substancial de dados” — como aponta o estudo da ONU — se torna mais dificultoso idealizar projetos e ações governamentais cujos objetivos sejam a diminuição do desperdício de alimentos no país. Consequentemente, também faltam operações que visem reaproveitar esta comida, o que poderia ajudar a reduzir a fome
“Se não há dados apontando a situação atual, é impossível medir se realmente está havendo redução do desperdício ou não”, observou o líder da pesquisa, Pedro Biancoli, em entrevista concedida ao Jornal da Unesp. Biancoli é cientista pela Universidade de Boras, na Suécia.
Coleta de dados
Em sua primeira etapa, o estudo analisou a quantidade de comida jogada fora em quatro feiras livres paulistanas, nos bairros da Mooca, Belenzinho, Pacaembu e Aclimação. Após o término das atividades, os resíduos recolhidos foram encaminhados para um galpão, onde passaram por um processo denominado gravimetria.
Neste procedimento, os pesquisadores realizam manualmente a separação, pesagem e categorização de todos os alimentos desperdiçados. A partir daí, eles conseguiram estimar a quantidade de comida desperdiçada em relação ao total de resíduo deixado na rua após as feiras.
Com os dados coletados, os cientistas puderam fazer comparações e cálculos com demais informações sobre feiras livres divulgadas pela prefeitura paulistana. Atualmente, no município, existem 942 mercados ao ar livre, e cerca de 48 mil barracas. No período de um ano, são montadas aproximadamente 45 mil feiras.
Após realizado esse cruzamento de dados, o estudo pôde concluir que, anualmente, são descartados entre 19 mil e 59,3 mil toneladas de resíduos nas feiras livres paulistanas. Desta quantia, cerca de 14,9 mil a 18,4 mil toneladas são de alimentos ainda comestíveis; entre 6,4 mil e 31,9 mil toneladas são restos não-comestíveis; e de 4,1 mil a 9 mil toneladas, são embalagens.
Conclusão da análise dos resultados
Segundo o líder da pesquisa, o cientista Pedro Biancoli, o estudo teve bastante importância. “Anteriormente, não tínhamos a menor ideia da quantidade ou da composição desse resíduo”, destacou.
No entanto, ele considera, também, que a pesquisa possui algumas limitações, como o número restrito de feiras analisadas se comparadas com o tamanho territorial e diversidade socioeconômica no município de São Paulo.
“Vejo o trabalho como um primeiro chamado para dar a dimensão de um problema que até então era completamente ignorado. Às vezes esse primeiro número é importante para iniciar um movimento”, avaliou Biancoli.
Na segunda parte do projeto, serão levantados fatores de risco que determinam as principais causas para o desperdício destes alimentos nas feiras livres de São Paulo, como transporte, manuseio e triagem de alimentos para comercialização.
Fonte: Jornal da Unesp