Testes clínicos da ButanVac devem começar em abril, após autorização da Anvisa para o imunizante da instituição pública paulista
Por Redação
O Instituto Butantan anunciou nesta sexta-feira (26) o desenvolvimento de uma vacina brasileira com tecnologia americana contra o coronavírus. A produção-piloto do imunizante consagra uma instituição pública paulista e o trabalho de servidores públicos em pesquisa e desenvolvimento científico como fundamentais para o combate à pandemia no Brasil.
A expectativa é que os ensaios clínicos de fase 1 e 2 em humanos comecem em abril, após autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Os testes com animais se mostraram promissores, o que permite ampliar a pesquisa com humanos. Dessa forma, depois de comprovada a segurança, a produção será nacional, sem necessidade de importação de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA).
A nova vacina em desenvolvimento é resultado de um consórcio internacional do qual o Instituto Butantan faz parte, sendo o principal produtor, responsável por 85% da capacidade total. A instituição pública tem o compromisso de fornecer o imunizante ao Brasil e a países de baixa e média renda.
O instituto deve utilizar tecnologia já disponível em sua fábrica de vacinas contra gripe, a partir do cultivo de cepas em ovos de galinha. Apesar disso, a potencial vacina foi iniciada com tecnologia do hospital Mount Sinai, de Nova York, nos Estados Unidos, para o vetor viral. O trabalho gera doses de imunizantes inativados, feitos com fragmentos de vírus mortos.
Para Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa clínica do Butantan, o desenvolvimento da vacina indica segurança e eficácia contra o coronavírus. “Sabemos que vacinas inativadas são eficazes contra a Covid-19 e temos tecnologia para isso. Entregar mais vacinas é o que precisamos neste momento tão crítico”, diz.
Outro ponto positivo é aproveitar o conhecimento científico adquirido na produção da Coronavac, vacina produzida em parceria com a empresa chinesa Sinovac e já aplicada na população brasileira. “Entendemos a necessidade de ampliar a capacidade de produção de vacinas contra o coronavírus e da urgência do Brasil e de outros países em desenvolvimento de receberem o produto de uma instituição com a credibilidade do Butantan”, afirma o diretor-presidente, Dimas Covas.
TECNOLOGIA
A ButanVac utiliza um vetor viral que contém a proteína Spike do coronavírus de forma íntegra. O vírus utilizado como vetor nesta vacina é o da Doença de Newcastle, uma infecção que afeta aves. O vírus se desenvolve bem em ovos embrionados, permitindo eficiência produtiva num processo similar ao utilizado na vacina de influenza. O vírus da doença de Newcastle não causa sintomas em seres humanos, constituindo-se como alternativa muito segura na produção. O vírus é inativado para a formulação da vacina, facilitando sua estabilidade e deixando o imunizante ainda mais seguro.